Friday, April 21, 2006

Menina dos Olhos Tristes

Menina dos olhos tristes
O que tanto a faz chorar
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
(...)

A lua que é viajante
é que nos pode informar
O soldadinho já volta
Do outro lado do mar

O soldadinho já volta
Está quase mesmo a chegar
Vem numa caixa de pinho
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.

in Zeca Afono, Menina dos Olhos Tristes

E era assim que eu costumava adormecer, embalada por histórias de Meninas e Soldadinhos.
O meu, o nosso Soldadinho voltou. Não veio numa caixa de pinho, mas a sua alma deve ter ficado junto daqueles que viu despedaçados à sua volta , enrodilhados em panos sangrentos que não cessavam de perguntar : porquê?

Saturday, April 08, 2006

Trovas

"Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
...
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

"in "Trovas do vento que passa" Poema de Manuel Alegre

Esta não é uma história fácil de se contar. Muitas vezes ouvi-o dizer que tinha que escrever o livro da sua vida. Sei que a parte que mais crucial reportava-se a estes anos passados na Guiné. As emboscadas, os amigos vitimas das minas, as tabancas incendiadas, a fome, a sede e uma vontade súbita de tudo enfrentar; uma vontade indómita de penetrar na mata e matar ou morrer.
À minha mãe, inundada de aerogramas com palavras de esperança e desespero, diziam-lhe os colegas de guerra que voltavam à metrópole, feridos para não mais voltar: " A menina desista dele, porque ele não vai voltar. " Cabo 14 , menino quase imberbe que fazias tu, que vias tu, lá nessas terras distantes?

Thursday, April 06, 2006

Ao Desconcerto do Mundo


Sinais de tempos idos. Muitos louvores anulados por outros tantos castigos, de quem se revoltava perante a injustiça e os erros de quem mandava, mas não combatia, ou de quem combatia, mas não vivia, ou matava e não perdoava.


"Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos."

Aerograma



Cabo 2514

Fernando Ferreira



As histórias contei-as já há muito tempo e antes de as viver os meus olhos brilhavam assim. Em 1964 tudo começou a mudar.
Alguém que ouviu essas histórias vezes em conta, resolveu agora partilhá-las .... com os outros, com o presente, com o futuro..... com o passado.