Saturday, August 25, 2007

um aparte


Não sei como , mas todas a fotografias desapareceram deste blog.... tive que as procurar e colocá-las novamente. Não estão nos sítios certos mas com tempo lá chegarei. Entretanto eis alguns documentos mais .

Friday, August 24, 2007


Um Homem na Cidade

Agarro a madrugada como se fosse uma criança, uma roseira entrelaçada, uma videira de esperança. Tal qual o corpo da cidade que manhã cedo ensaia a dança de quem, por força da vontade, de trabalhar nunca se cansa. Vou pela rua desta lua que no meu Tejo acendo cedo, vou por Lisboa, maré nua que desagua no Rossio. Eu sou o homem da cidade que manhã cedo acorda e canta, e, por amar a liberdade, com a cidade se levanta. Vou pela estrada deslumbrada da lua cheia de Lisboa até que a lua apaixonada cresce na vela da canoa. Sou a gaivota que derrota tudo o mau tempo no mar alto. Eu sou o homem que transporta a maré povo em sobressalto. E quando agarro a madrugada, colho a manhã como uma flor à beira mágoa desfolhada, um malmequer azul na cor, o malmequer da liberdade que bem me quer como ninguém, o malmequer desta cidade que me quer bem, que me quer bem. Nas minhas mãos a madrugada abriu a flor de Abril também, a flor sem medo perfumada com o aroma que o mar tem, flor de Lisboa bem amada
que mal me quis, que me quer bem.


Ary Dos Santos


Um dos poetas que ele admirava.

Monday, October 02, 2006

A Treze de Outubro de 1990

Três meses e dez dias depois partiu. Esta é a última fotografia. Apesar de tudo nunca o seu sorriso esmoreceu.



Mas para quem ficou.....

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.


W.H. Auden


As memórias são


"As memórias são
Como livros escondidos no pó
As lembranças são
Os sorrisos que queremos rever, devagar" Luís Represas



Os livros escondidos no pó ressurgem. Para o bem e para o mal. Avivem-se as imagens, os sons, os sentimentos. Quem lá esteve, merece. O meu pai merece.


Porque nunca ninguém lhe pediu desculpa pela vida que lhe roubaram e a paz que lhe negaram.
Exorcizem-se as lembranças tanto tempo calcadas, na vida ou já depois da morte. Devemos isso a quem lá esteve. Exumem-se as almas condenadas e os corpos abandonados.Devemos-lhes muito mais. Devemos-lhe uma vida roubada por quem governava com uma estúpida máquina de calcular e um espírito mesquinho que gerações deixaram grassar................. E até ao seu regresso.................

Ilha do Como, Pirada, a bordo do Uíge (Pirada) no regresso à "Metrópole" ;a chegada do Correio



Espelhos de Guerra.... espelho , espelho meu, quantos lá estavam como eu.......

O embarque em 8/1/64, 12h ,20m e a Chegada à Guiné em 15/1/64, Desembarque 9h e 10 m



A bordo do Quanza rumo à Guiné, com o Pelotão em 63 ( infelizmente é o único cujo rosto já não está visivel)e outras imagens do quotidiano de então.

Imagens da Guiné



A chegada a Lisboa em 1966

Friday, April 21, 2006

Menina dos Olhos Tristes

Menina dos olhos tristes
O que tanto a faz chorar
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
(...)

A lua que é viajante
é que nos pode informar
O soldadinho já volta
Do outro lado do mar

O soldadinho já volta
Está quase mesmo a chegar
Vem numa caixa de pinho
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.

in Zeca Afono, Menina dos Olhos Tristes

E era assim que eu costumava adormecer, embalada por histórias de Meninas e Soldadinhos.
O meu, o nosso Soldadinho voltou. Não veio numa caixa de pinho, mas a sua alma deve ter ficado junto daqueles que viu despedaçados à sua volta , enrodilhados em panos sangrentos que não cessavam de perguntar : porquê?

Saturday, April 08, 2006

Trovas

"Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
...
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

"in "Trovas do vento que passa" Poema de Manuel Alegre

Esta não é uma história fácil de se contar. Muitas vezes ouvi-o dizer que tinha que escrever o livro da sua vida. Sei que a parte que mais crucial reportava-se a estes anos passados na Guiné. As emboscadas, os amigos vitimas das minas, as tabancas incendiadas, a fome, a sede e uma vontade súbita de tudo enfrentar; uma vontade indómita de penetrar na mata e matar ou morrer.
À minha mãe, inundada de aerogramas com palavras de esperança e desespero, diziam-lhe os colegas de guerra que voltavam à metrópole, feridos para não mais voltar: " A menina desista dele, porque ele não vai voltar. " Cabo 14 , menino quase imberbe que fazias tu, que vias tu, lá nessas terras distantes?

Thursday, April 06, 2006

Ao Desconcerto do Mundo


Sinais de tempos idos. Muitos louvores anulados por outros tantos castigos, de quem se revoltava perante a injustiça e os erros de quem mandava, mas não combatia, ou de quem combatia, mas não vivia, ou matava e não perdoava.


"Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos."

Aerograma



Cabo 2514

Fernando Ferreira



As histórias contei-as já há muito tempo e antes de as viver os meus olhos brilhavam assim. Em 1964 tudo começou a mudar.
Alguém que ouviu essas histórias vezes em conta, resolveu agora partilhá-las .... com os outros, com o presente, com o futuro..... com o passado.